O primeiro texto é do grupo formado por João Felipe, Vinícius, Élder, Evandro e Tiago.
Sintam-se à vontade e "convocados" a ler, pensar, refletir e discutir conosco!
Esporte e sua apropriação social - Um relato do Circuito CAIXA de Ginástica 2012 em Aracaju/SE
No segundo dia de aula da disciplina Esporte
e Mídia (2012/2) ministrada pelo Professor Cristiano Mezzaroba, foi discutido
em sala um texto de Giovani de Lorenzi Pires o qual tratava dos estudos dos
processos de apropriação social do esporte. Abaixo, segue um relato de um
evento esportivo, no qual a partir do mesmo podemos pensar/refletir sobre
alguns processos de apropriação do esporte tratados por Pires (1998) no texto,
principalmente no que diz respeito à mercadorização e espetacularização do
fenômeno esporte.
De 22 a 24 de novembro de 2012 foi realizado
na cidade de Aracaju a etapa final do Circuito CAIXA de Ginástica Artística e
Rítmica, onde alguns acontecimentos que ocorreram durante esse evento, chamaram
bastante atenção de algumas pessoas ali presentes, em especial daqueles que
estavam trabalhando diretamente no evento como voluntários, principalmente por
se tratar de pessoas que não tinham tido contato ainda com eventos de
grande reconhecimento nacional como
esse.
O primeiro destaque a ser observado é em
relação ao nome do evento em si, pois como foi colocado no início desse
texto mesmo se tratando de um evento que envolve as duas modalidades de
ginásticas (artística e rítmica), em que os maiores atletas do país na
ginástica estavam presentes, o que é destacado com letras maiúsculas e aparenta
ser o que realmente deve ser evidenciado, tendo uma maior importância é o nome do maior patrocinador do evento,
nesse caso um dos maiores bancos do país, a Caixa
Econômica Federal.
Outro ponto a ser destacado era a quantidade de banners, balões e tapetes
exaltando o nome do banco patrocinador que decoravam o ginásio onde viria a
ser realizado a competição.
Mas o que mais chamou a atenção nesse
evento foi que no primeiro dia de competição (neste caso o dia 23, já que o dia
22 ficou reservado apenas para treinamento dos atletas), que não foi transmito
em canal de TV algum, a disputa procedeu-se de maneira tranquila, sem muita
presença do público no ginásio e com uma “liberdade” para as pessoas que ali
trabalhavam, fossem como voluntários ou até mesmo pertencentes às comissões
técnicas transitarem pela área onde era realizada a disputa em si. Algo
totalmente diferente do que ocorreu no segundo dia, esse já com transmissão ao vivo do Canal SPORTV. Nesse segundo dia algumas coisas merecem uma atenção
maior, como a não liberação tanto dos voluntários que ali trabalhavam, como da
comissão técnica das equipes (com exceção para um técnico por equipe) em circularem na área de competições. Outro
ponto fica por conta do horário de início
da competição, pois no primeiro dia ocorreu quase uma hora de atraso, coisa
que nem passou perto de acontecer no segundo dia, já que começou perfeitamente
no horário marcado, as 10hr da manhã do dia 24, até porque os responsáveis pela transmissão afirmaram que se não começasse no
horário, a transmissão seria cancelada (algo terrível para o patrocinador
né mesmo?!).
Por fim o trabalho com o público foi o mais impressionante, pois a todos que
chegavam para prestigiar o evento (nesse dia o número de pessoas presentes foi
enorme) recebiam pequenos brindes do patrocinador logo na entrada, entre eles
camisas, bonés e “batecos” (objeto para que a torcida possa fazer barulho na
arquibancada). Só que a ressalva nesse caso fica por conta que a camisa não era
dada por um acaso, as pessoas eram incentivadas a vestirem a camisa antes de
chegarem na arquibancada, em seguida recebiam os bonés e por fim os batecos,
este último só poderia receber quem de fato já estivesse vestido com a camisa que
estava sendo entregue. Além de ser “proibida” a entrada de qualquer pessoa que
estivesse trajando alguma roupa que estampasse a logomarca de qualquer outro
banco que não a do patrocinador.
À luz deste relato, podemos observar como
a mídia e diversas empresas em certa medida fazem apropriações acerca de
determinados eventos esportivos em prol de sua própria promoção. O
evento esportivo em certa medida deve se adaptar ao veículo que o transmite uma
vez que este veículo busca “manipular” os horários de provas, intervalos e
propagandas, para que durante a transmissão não haja “tempo morto”, que seria o
tempo em que não há benefícios nem para o evento nem para o veículo que o
transmite.
Com isso fica evidente que nos eventos
esportivos acaba acontecendo a manipulação ao seu decorrer, porque uma simples locomoção
de técnicos na área de competição possa “prejudicar” a transmissão por parte
dos aparelhos de televisão o que pode atrapalhar a visibilidade dos
patrocinadores no evento o que seria de alguma forma contribuir para o não
andamento do evento, pois sem a interferência dos patrocinadores o evento não
teria a verba necessária para acontecer ou ao menos não haveria lucros para
algumas partes.
A mercadorização
no esporte fica escancarada quando um torcedor não pode permanecer no
ginásio pelo simples fato de não estar vestido com a camisa do patrocinador e
portando objetos que evidencie a imagem da empresa responsável em patrocinar o
evento. Outra influência no transcorrer do evento vem por parte da transmissão
televisiva que controla o tempo de apresentação causando intervalos e hora pra
começar e acabar a competição no intuito de promover os patrocinadores nos
intervalos e ao mesmo tempo não afetar sua grade de transmissão.
Para pensarmos sobre a mercadorização e
espetacularização do esporte, basta pensar no “simples fato” do evento
esportivo estar sendo transmitido pela televisão. Ou seja, o mesmo precisa
incorporar a linguagem visual da TV afim de que a mensagem publicitária ali
veiculada seja cada vez mais inculcada na subjetividade do telespectador, pois,
apenas deste modo o lucro que está presente em torno do evento, pode ser
mantido e expandido. Tal espetacularização, pode ser vista também quando a
torcida está uniformizada, com os “batecos” afim de formar um único movimento,
e quando a mesma acaba ganhando “brindes” (no caso deste evento seria a camisa
e os “batecos” com a logomarca do banco patrocinador).
Podemos notar também o sentido de hierarquia
que uma força que se encontra dominante dentro de uma sociedade pautada no
sistema capitalista, diante de atletas, esporte e evento num todo. Acaba por
fazer uso de seu poder espetacularizar um evento esportivo, onde podemos notar
um paradoxo até certo ponto curioso, onde a SPORTV com o seu poder midiático acaba por
tornar o evento algo mais relevante e significante no mundo esportivo,
porém a própria SPORTV demonstra que a importância do evento não seja lá tão
importante, se não respeitada as regras de horário que ela estabeleceu. Ou
seja, isso e um “casamento de fachada” onde o importante é a imagem que este “casório”
gera para o interesse de ambos, o “amor” fica em segundo plano, talvez nem
exista!
É importante notar que todo esse jogo
de favores, diz respeito aos interesses de todos envolvidos, ou seja, o
evento precisa de verba para acontecer, é neste momento que entra o
patrocinador com o dinheiro o qual precisa divulgar sua marca, e é aí que vem à
tona a TV (mídia) que passa a transmitir o evento e logo, fazer a promoção do
patrocinador. Deste modo, o esporte serve de pano de fundo para diversos
interesses, sobretudo interesses econômicos.
Em suma, podemos ver materializado no relato
sobre o evento de ginástica os processos de apropriação social do esporte, mais
fortemente ainda os processos de mercadorização e espetacularização.